A igreja colocou nas mãos dos católicos desde o ano passado um documento no qual o Papa Bento XVI traz orientações precisas a todos os que desejam, de fato, se aprofundar na Palavra de Deus. Trata-se da exortação pós-sinodal Verbum Domini, publicada pelo Vaticano em 30 de setembro de 2010, após o Sínodo sobre a Palavra de Deus, realizado em outubro de 2008.
O documento é divido em três partes: Verbum Dei, Verbum Ecclesia e Verbum Mundo. O Papa leva o fiel a fazer um percurso desde a explicação do significado do Verbo, ou seja a ‘Palavra de Deus’, à maneira como cada batizado é chamado a encarnar o ensinamento evangélico na sua vida e a anunciá-lo.
Uma curiosidade é que o Papa fez questão de enfatizar as palavras "relacionamento" e "encontro", que aparecem mais de 40 vezes nas 386 páginas do documento. O decano da Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Salesiana (UPS), em Roma, padre Giorgio Zevini, que participou do Sínodo de 2008 que deu origem à exortação pós-sinodal, explica porque o Pontífice privilegiou estas duas palavras na Verbum Domini.
"O Papa tem muito no coração que entre Deus e o homem se supere toda distância. Deus nos quer para si. Cada um de nós é capaz de escutar e de responder ao chamado de Deus e à Sua palavra. O homem foi criado na palavra e vive na mesma: ele não pode entender a si mesmo se não se abre a este diálogo com Deus, que é um colóquio de amor.", explicou padre Zevini.
O Biblista, que é professor de Ciências bíblicas na Universidade Salesiana Pontifícia de Roma, ao falar sobre a força da Sagrada Escritura, a qual conduz o homem a um estreito contato com Deus, elenca os frutos gerados deste relacionamento entre o Criador e o homem.
"A palavra valoriza o homem, não mortifica os nossos desejos autênticos, mas os ilumina, purificando-os e levando-os à complementariedade. Resta a nós abrir a mente e o coração à ação do Espirito Santo que nos faz entender a Palavra de Deus presente nas Sagradas escrituras”, disse.
Entender a Palavra de Deus sem desligar-se da Igreja
A palavra de Deus gera uma relação de intimidade com Deus, um diálogo capaz de transformar a vida da pessoa, segundo afirmou o biblista nos parágrafos precedentes. Por trás da mesma palavra, existe uma Igreja que por séculos sempre foi cuidadosa quanto a assimilação e difusão dos textos sacros. Muitos chegam a dizer enfaticamente: "Eu leio a Bíblia sozinho e tento vivê-la, não preciso ir à missa”. Padre Zevini, baseando-se na própria Palavra e no ensinamento da Igreja Católica, explica se este caminho de conhecimento deve sempre ser feito de forma individual.
“A escritura deve ser lida e compreendida “in Ecclesia” (na Igreja). Deus nos fala em muitas realidades, como na Sagrada Escritura, nos sacramentos, na comunidade, na história. Naturalmente a referência à liturgia como lugar privilegiado da escuta na fé tende a ligar a Palavra de Deus ao sacramento fonte e cume de toda a vida da Igreja. Na liturgia, a palavra de Deus é celebrada como palavra atual e vivente”, afirmou.